segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Para mim São Paulo é muita saudade! Parabéns São Paulo!

Em homenagem aos 455 anos da nossa maravilhosa São Paulo, e homenageando a minha tão querida Vila Clementino, lugar que tive o privilégio de morar por oito meses, conto aqui um pouco de história.

Como Nasceu a Vila Clementino
O Matadouro Municipal de Vila Clementino foi inaugurado oficialmente no dia 5 de janeiro de 1887. O prédio localiza-se no Largo Senador Raul Cardoso, nº. 207, próximo à Avenida Sena Madureira e foi tombado pelo patrimônio histórico arquitetônico, artístico e turístico do estado em 1983.Coube ao matadouro uma importante tarefa histórica: serviu como foco de desenvolvimento para uma região ainda não ocupada. Na placa de mármore, que ainda hoje pode ser vista nas paredes do prédio, há a anotação histórica:“Construído no quatriênio de 1883 a 1887/Presidente da Câmara Dr. Manoel Antonio Dutra Rodrigues/Architecto - Alberto Kuhlmann”Em 27 de maio de 1885, enquanto o prédio ainda estava sendo construído, um ramal da linha de bonde veio ligar a Estação Vila Mariana ao matadouro. A Vila Mariana era, nesse período, núcleo insipiente com população dispersa em pequenas chácaras, onde o binômio Matadouro-Ferrovia foi decisivo na sua urbanização e povoamento.A construção do matadouro é um período, considerado pelos arquitetos, como a “segunda construção de São Paulo”. Isto porque o prédio, revestido com tijolos aparentes, marca o fim das construções em taipa de pilão (parede de barro ou de cal e areia, com estacas de tábuas de madeira). Sua inauguração foi um grande acontecimento e com muita pompa, festa e discursos, como relata o Correio Paulistano, de 06 de janeiro de 1887: “Realizou-se ontem a inauguração do novo matadouro, sito no arrabalde de Villa Marianna. Às duas da tarde, partiu da Rua Vergueiro um comboio da Companhia Carris de Ferro de Santo Amaro, conduzindo o excelentíssimo presidente da província, vereadores, representantes da imprensa, outras pessoas gradas e uma banda de música, chegando todos ao novo matadouro às três horas e um quarto...". E prossegue relatando as festividades.O memorialista Pedro Masarolo descreve, com riqueza de detalhes, a agitação que tomava conta das ruas do bairro, logo após a inauguração do matadouro: “As boiadas para o corte vinham do Ipiranga e outras da Lapa. As que vinham do Ipiranga eram descarregadas nessa estação e depois, pela Estrada do Vergueiro, Ruas Conde de Irajá e Domingos de Moraes, entravam pela Sena Madureira até as mangueiras (currais), que ficavam próximas ao Matadouro; ali, aguardando o dia do sacrifício”.A passagem das boiadas pelo bairro eram sempre um acontecimento. Os bois, já cansados pela viagem de trem, vinham pela estrada espavoridos como uma avalancha. O povo, ao grito (“a boiada”), corria e se escondia atrás do primeiro cercado que encontrasse à frente ou entrava na primeira porta que achasse aberta.No meio da boiada, era comum bois bravos, e muitos casos houve de acidentes com populares. Vinham eles num tropel e, em meio à poeira, os boiadeiros a cavalo de um para outro lado esporeando os animais, gritando e branindo os chicotes. Este espetáculo dava a impressão de uma legião de demônios saídos do inferno. Os bois que vinham da Lapa também eram trazidos da mesma forma. Ao desembarcar na estação, eram trazidos para os lados do cemitério, e dali seguindo a Estrada das Corujas e os campos do Pedro Criste. Depois de atravessarem a Rua Teodoro Sampaio, entravam na estrada do Bibi e depois, pelo Ibirapuera, chegavam às mangueiras (currais).O prédio do matadouro era uma boa construção para aqueles tempos. Paredes com tijolos à vista, bem assentados e até com arte, davam bom aspecto. As partes internas eram amplas e as instalações de matança mais modernas que as do antigo. Depois do abate, a carne verde era também transportada para o mesmo tendal do Largo São Paulo. Agora, esse transporte era feito de trem até a estação de São Joaquim e, dali então, em carroções apropriados até o tendal. Ao lado do matadouro, pouco tempo depois, foi construído também o curtume, de onde saía um córrego de água sempre tinta de sangue (o córrego do Sapateiro).Nas imediações e sobre o prédio do matadouro, havia sempre muitos urubus. Como se pode imaginar, em toda aquela área sentia-se o mau cheiro proveniente do matadouro e do curtume. No local do curtume, foi construída agora uma escola do SENAI.O largo em frente ao matadouro (hoje, Senador Raul Cardoso) era bem grande. No meio dele, uma paineira e um dos lagos um babual. Alguns botequins e ambulantes faziam seu comércio. Ali se reuniam operários do matadouro e do curtume, com suas roupas com marcas de sangue, facas de trabalho na cintura. Não eram figuras agradáveis à vista. Marchantes, tripeiros, carroceiros e mesmo mulheres e crianças. Cachorros, então, havia ali bandos deles.Os bois eram sacrificados a golpes de lança na nuca por um magarefe, que ficava no alto de uma plataforma sobre o corredor, para onde os bois eram tangidos. Ali, o animal derreava já sobre um carro que então era transportado para o salão de carneio. O lugar da matança era público, qualquer pessoa podia assistir. Muita gente vinha da cidade beber sangue de boi, pois acreditava-se, então, que pessoas anêmicas ou fracas teriam com aquela prática grandes melhoras, ou poderiam até obter a cura de vez.Os italianos que se instalaram na Vila Mariana eram quase todos oriundos da Província de Salerno, e mais especificamente daquela parte montanhosa, conhecida por Cilento (...). Todos ou quase todos se entregaram de corpo e alma, seja como donos ou como empregados, ao comércio de miúdos, e passaram a constituir a classe dos tripeiros.O comércio de miúdos tornou-se um negócio lucrativo. (...) Moradores da época relatam que a violência imperava entre os tripeiros, com muitos crimes sem razão sendo praticados por uma palavra, um mal-entendido, enfim...A Prefeitura, segundo depoimentos de antigos moradores, interessava-se em civilizar e urbanizar a região. Por esse motivo, cedia os terrenos para que fossem pagos em prazos dilatados, de até 30 anos.Os primeiros terrenos foram cedidos, no perímetro em que estava centralizado o novo matadouro, para funcionários públicos municipais, como é o caso do major Eleutério Borges de Azevedo Lagoa (hoje, uma das principais artérias do bairro), que era o administrador do matadouro em 1891, e também proprietário de um lote de terreno nas proximidades do prédio recém inaugurado. Outro proprietário de lote também foi homenageado pós-morten, dando seu nome a uma rua: Leandro Dupré, igualmente funcionário público.Em 1891, quatro anos depois do Matadouro Municipal de Vila Mariana ter sido inaugurado, um grupo de funcionários solicita aumento de vencimentos ao presidente da Câmara Municipal, Clementino de Souza e Castro, que assim se pronunciou: “Indico como solução ao pedido de aumento de ordenado feito por diversos empregados desta intendência, que se defira o pedido, aumentando-se-lhes 15% sobre o que recebem, isto quanto aos que não tiveram acréscimo”.O aumento de salário, ao que tudo indica, deixou os funcionários radiantes. Eles prontamente, manifestaram-se, homenageando o presidente da Câmara, solicitando, em um abaixo-assinado, que fosse dado o nome de Clementino ao local, onde tinham seus lotes de terra. Em sessão solene, no dia 5 de dezembro de 1891, resolveu-se aprovar a petição: “Requerimento assinado por cento e vinte sete cidadãos pedindo que seja dado o nome de Vila Clementino à parte da Villa Marianna em que estão situados os lotes de terrenos que lhes foram concedidos”. O Conselho deliberou deferir a petição. A Vila Clementino apareceu pela primeira vez no mapa em 1897, na planta geral da cidade, organizada pelo intendente de obras Gomes Cardim. Nesta planta, observa-se a mesma delimitação de hoje, com algumas particularidades.Observação: A publicação desta pesquisa data de 1999. Com o processo acelerado da especulação imobiliária que a Vila Clementino sofreu, acreditamos haver alterações significativas na região.
Autora: Ivette Gomes Moreira
Extraído de http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=2118

Beijinhos!

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